Alma dos Diferentes
"...
Ah, o diferente, esse ser especial!
Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentar, caso um dia venham, a ser.
Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentar, caso um dia venham, a ser.
O diferente
é um ser sempre mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas.
O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas.
Supondo
encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias,
adiadas; esperanças, mortas. Um diferente medroso, este sim, acaba
transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.
Os
diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem. Os
diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro.
Diferente
que se preza entende o porque de quem o agride. Se o diferente se mediocrizar,
mergulhará no complexo de inferioridade. O diferente paga sempre o preço de
estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e
pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual: a
inveja do comum; o ódio do mediano.
O verdadeiro
diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura.
O que é
percepção aguçada em : "Puxa, fulano, como você é complicado".
O que é o
embrião de um estilo próprio em : "Você não está vendo como todo mundo
faz? "
O diferente
carrega desde cedo apelidos e marcações os quais acaba incorporando. Só os
diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos
seus grandes modificadores. Diferente é o que vê mais longe do que o consenso.
O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.
Diferente é
o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham. É o que engorda
mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram; quer onde
outros cansam. Espera de onde já não vem.
Sonha entre
realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados.
Cria onde o hábito rotiniza. Sofre onde os outros ganham.
Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe.
Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe.
Perde horas
em coisas que só ele sabe importantes.
Engorda onde
não deve.
Diz sempre
na hora de calar.
Cala nas
horas erradas.
Não desiste
de lutar pela harmonia.
Fala de amor
no meio da guerra.
Deixa o
adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar.
Ele aprendeu a superar riso, deboche, escárnio, e consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.
Ele aprendeu a superar riso, deboche, escárnio, e consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.
Os diferentes
aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais,
inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais,
narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de
espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas
procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.
A alma dos
diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que
eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender.
Nessas
moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes.
Não mexa com
o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para
suportá-lo depois."
Texto Atribuído a Arthur da Távola
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